segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Absinto!

- Boa noite. O que vai desejar monsieur?
- Certamente é, meu caro. Imploro-lhe um copo de fada verde! Só ele afastará os demónios da minha alma e todas as tragédias grotescas desta realidade! Por favor, trazei-me esse meu destilado opiáceo.
- Então deseja absinto... em homenagem a algum amor perdido?
- A todos aqueles que o tempo levou e a todos aqueles que levaram um pouco de mim com eles! Dizem que o álcool faz milagres em feridas. Vamos ver se consegue tirar a esta toda a sua infecção. A esta noite e a todos os copos que levantarei em honra de todas aquelas musas e sereias que me enfeitiçam de perdição! A todas elas, muita poesia e pouco sexo!
- Não será mais ao contrário, meu caro?
- Nunca! Ser platónico é viver para a escrita e sonhar com o físico sem perder a alma nele! É sonhar com anjos sem nunca ter aprendido a perdê-los! É o que dá fúria à juventude e todo o ímpeto à evolução. Deixo o sexo aos crentes... a mim só me resta a sombra da escrita e os tijolos do tempo...
- Mas é tão novo ainda...
- Se pensa isso de mim, então brindemos a isso! Talvez tenha algum motivo para festejar! Venha outra fada verde e outra e ainda outra! Talvez morra jovem e eterno numa orgia carnal demais para ser associada a qualquer tipo de sentimentos! Talvez morra como um deus, longe da minha dor... brindemos garçon! Brindemos...
- A uma vida melhor!
- E a uma morte em grande!

Paulo Ramos
22.12.08